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Foto do escritorAlex Lima

A água milagrosa


Havia uma água milagrosa, de uma fonte situada em uma daquelas altas montanhas que ladeiam os fiordes da Escandinávia. Possuía o notável poder de trazer de volta a paz e a harmonia aos lares, quando estes eram afetados pela ira de um marido nervoso, chato e implicante, daqueles que reclamam até da própria sombra.

Foi Bekhail, conhecida como “a idosa”, que descobriu o segredo da água e difundiu o seu uso na aldeia gelada de Celsinik, no extremo Norte da Europa, onde hoje é a Finlândia. A sábia senhora era esposa de um daqueles antigos guerreiros vikings, que usavam capacetes com chifres, comiam com as mãos e saíam em bandos de esquadras para arrumar confusão pelos mares afora. Ela usava a água milagrosa para manter o seu lar unido e feliz. Era mesmo um prodígio o efeito pacificador da água. Quando o bárbaro voltava da guerra, e na mesma fúria do combate entrava em casa, chutando a porta e berrando o nome da mulher, Bekhail já tinha bem à mão a sua moringa, cheinha de água milagrosa.

Quando o bruto começava a implicar com a comida, o jeito da casa, a cara da mulher, era hora de apelar para os “poderes da água”, e logo o homem se aquietava, encostava num canto e adormecia, como se fosse um bebê. Não há caso registrado de que a água tenha falhado uma só vez. E olhe que o seu poder foi testado em situações dificílimas! As mulheres dos vikings resolveram, então, escrever a receita de como usá-la em uma pedra monumental, na praça principal da aldeia.

Aqueles homens conquistaram muitas terras e grandes vitórias. Eram temidos pelos mares e famosos por serem guerreiros invencíveis. Em casa, porém, graças à água milagrosa, eram cordatos e pacíficos, facilmente dominados pela sabedoria das suas esposas. Finalmente aquela aldeia, aninhada nos fiordes da Escandinávia, foi invadida por outros povos bárbaros e tomada cativa. A avalanche de neve de um rigoroso inverno soterrou todas as casas e ruas, varrendo a cidade do mapa. Assim, por séculos, o segredo da água milagrosa ficou perdido e milhares de famílias ficaram privadas dos benefícios do seu uso. Discussões, agressões físicas e divórcios, que arrasaram milhares de lares, poderiam ter sido evitados, se o segredo da água milagrosa tivesse sido revelado.

Escavações recentes de um grupo de arqueólogos, entretanto, revelaram a aldeia perdida debaixo de uma grossa camada de neve, e a pedra onde as mulheres haviam escrito a receita de como usar a água milagrosa. Eis a receita:

· Ter sempre à mão uma botija cheia de água milagrosa, especialmente antes da chegada do marido.

· Assim que notar sintomas de fúria e desvario no marido, isto é, voz alterada, implicância sem justo motivo, olhos avermelhados, artérias do pescoço sobressaltadas, correr à botija e fazer uso de uma dose da água milagrosa, na quantidade necessária para encher completamente a boca, até que as bochechas fiquem bem estufadas. É muito importante manter a água milagrosa dentro da boca, sem engoli-la, até que o marido tenha parado completamente o seu falatório.

· Após o item anterior estar completamente cumprido, engolir a água milagrosa e respirar bem fundo. A paz já terá voltado ao lar, mas, caso haja algum imprevisto, como o marido voltar a berrar, repetir a dose, quantas vezes forem necessárias!

Ora, a água que os antigos habitantes de Celsinik tinham como milagrosa era semelhante a qualquer outra água. O segredo era a receita de Bekhail. Não falha nunca! É exatamente o que diz a Palavra de Deus:

“A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira.” Provérbios 15.1

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